“O patriarcado não se sustenta apenas com homens machistas, se sustenta também com mulheres machistas”.
Com essa afirmação, a procuradora do Instituto Federal do Maranhão, Ângela Bárbara Lima Saldanha Rêgo, pesquisadora de questões de Gênero, trouxe reflexões e contribuições para o ciclo de diálogos, em formato de mesa-redonda, sobre participação feminina e busca por equidade e justiça de gênero na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, durante o Workshop de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFMT, WorkIF 2023.
A atividade, realizada na tarde desta quinta-feira (26/10), no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá -MT, contou com a participação das integrantes da Comissão Permanente de Participação Feminina - Elas no IFMT, da diretora de Relações Interinstitucionais e Comunitárias Populares, professora Hilda Regina Pereira Menezes Olea e da bibliotecária documentalista Laura Caroline Aoyama de Barros, responsável pelo escritório de Captação de Recursos da instituição.
Hilda Olea abriu o diálogo com reflexões sobre o enfrentamento à naturalização da violência contra a mulher e destacou a posição do IFMT contrária a toda manifestação de cunho sexista e homofóbica. "Com a violência não se negocia. Não há espaço para o diálogo quando se trata da naturalização da violência contra a mulher, porque isso é irracional e desumano", enfatiza Olea.
Com foco em reflexão sobre a realidade do IFMT e a constituição de diretrizes para valorização do trabalho feminino, Laura apresentou os resultados de diagnóstico, realizado pela comissão Elas no IFMT, sobre a percepção de servidoras e servidores a respeito da participação feminina na instituição.
O diagnóstico feito a partir de questionário aberto às servidoras e servidores contou com 464 participações com respostas sobre o papel feminino no âmbito do IFMT, colhendo entre outras informações, percepções sobre os tipos de desafios no âmbito profissional, igualdade de oportunidades e a influência de gênero na escolha de cargos, funções e designação de tarefas na instituição.
A amostra representa 24% do quadro de servidoras e servidores, com maior participação nas respostas de servidoras e servidores do segmento técnico-administrativo.
Um dos destaques dos dados apresentados pela comissão, são as percepções diferentes entre homens e mulheres sobre a ocupação hegemônica masculina, nos espaços de poder no IFMT. Atualmente, dos 19 cargos de direção-geral, entre todos os campi, apenas dois são ocupados por mulheres.
"As mulheres têm percepções diferentes dos homens a respeito do trabalho e das oportunidades dentro do IFMT. Elas percebem mais as dificuldades e as diferenças na ocupação de funções e dos espaços de poder, majoritariamente masculino, na instituição", apresenta Laura.
Apoio às mulheres e enfrentamento institucional contra o sexismo
O reitor do IFMT, Julio César dos Santos, reafirmou o compromisso com a Comissão Permanente de Participação Feminina no IFMT, constituída em 25 de julho de 2023, com o propósito de instituir diretrizes e ações de valorização do trabalho feminino e de problematizar e combater o sexismo na instituição.
Julio destacou o desafio do institucional no combate a violências como o assédio sexual e o propósito de fortalecer ferramentas e instrumentos no esforço de conscientização de todo o quadro de servidoras e servidores sobre o enfrentamento às violências contra a mulher.
"Queremos que as nossas estudantes e servidoras tenham a tranquilidade e a consciência de que, ao denunciar, elas serão protegidas pela nossa instituição", afirma o reitor.
Por equidade e justiça de gênero
A pesquisadora convidada socializou experiências do projeto de equidade e justiça de gênero desenvolvido no IFMA, sob a sua coordenação, e trouxe reflexões sobre a necessidade de mudanças culturais ao apresentar uma linha histórica sobre a negação de direitos às mulheres e do papel de resistência de mulheres protagonistas contra a violência de Gênero no Brasil.
Ângela reforçou o princípio fundante dos institutos federais de promover educação inclusiva, diversa, com formação holística e integral voltada, para além dos aspectos técnicos e tecnológicos, para a dignidade da pessoa.
"Essa precisa ser uma educação que inclua todas as minorias históricas do nosso país. Quando falo de minorias históricas, estou falando, por exemplo, de pessoas do gênero feminino, pessoas negras, indígenas, pessoas que estão em uma condição de vulnerabilidade social, sobretudo. Para que se entenda, que essa equidade e justiça de gênero é um dos primeiros passos para que a gente possa, de fato, chegar a uma educação inclusiva, como a lei dos Institutos Federais preza", destaca Ângela.
Mesa-redonda: Ângela Rêgo, Laura Barros e Hilda Olea
Reitor do IFMT, Prof. Julio César dos Santos
Palestrantes, servidoras da Comissão Elas no IFMT e Diretor Executivo, Cristovam Albano
Texto: Edna Pedro - IFMT Cáceres